A obra do escritório catalão Barozzi Veiga é explorada a partir da tensão entre tradição e invenção na arquitetura, neste artigo de João Paulo Rapagão, publicado através da parceria com a AMAG.
As recentes instalações assinadas por Fabrizio Barozzi (Trento, 1976) e Alberto Veiga (Santiago de Compostela, 1973) apresentadas em Veneza (2016) e Chicago (2017) são simultaneamente manifestos de confissão e reflexão sobre a genealogia dos projectos e obras da dupla de arquitectos reunida em 2004 e sediada em Barcelona.
Sem filiações ou fidelizações únicas, antes centrados na apropriação ambiental do lugar e na afirmação formal do uso, Barozzi|Veiga conquistam a identidade de cada contexto e significam a individualidade da forma que o vai transformar. Aspiram, por isso, assumir iconografias locais, sempre com ambições e conotações simbólicas. O modus operandi alcança uma arquitectura formal e materialmente abrangente, claramente convincente e conivente com o mundo actual, ao mesmo tempo global e regional.
O lugar, com as suas aspirações e motivações, gera modelações qualificadas e equilibradas, ora de integração ora de tensão, capazes de promover um debate dialético social e culturalmente útil - Águilas|Espanha ou Londres|Inglaterra.
Quando vivemos presentemente um tempo onde os limites são a falta deles, emerge no ateliê o sopro da história da arquitectura como antecedente presente, estrutural e culturalmente essencial.Este instrumento historicista e classicista é evidenciado, assumida e descomplexadamente, na separação dos tempos quando Barozzi|Veiga desenham extensões ou adições, por exemplo, em Brunico|Itália, Edimburgo|Escócia e Bérgamo|Itália. Preferencialmente isoladas ou eventualmente adossadas, estas acções sublimam o espaço colectivo mimetizando mas actualizando as composições para as tornar estruturalmente eficazes, versáteis ao uso e à forma - Roa|Espanha, Chur|Suíça, El Prat de Llobregat|Espanha ou Mainz|Alemanha.
Barozzi|Veiga recuperam um tempo de afirmação institucional e monumental da arquitectura, seja pela massividade seja pela verticalidade, como acontece em Szczecin|Polónia ou Beirute|Líbano. Encontramos temas de repetição e inovação, onde a estandardização é uma inspiração, e onde a estrutura e a arquitectura são uma unidade formal e material, como acontece, por exemplo, com Marcel Breuer. Este mecanismo gere simultaneamente escalas públicas ou domésticas, por exemplo, em Zurique|Suíça,Cretas|Espanha ou Bardolino|Itália. Encontramos ainda marcas suíças aparentemente modestas mas de uma grandeza austera, com uma sensibilidade tectónica capaz de dotar os materiais industriais de uma riqueza artesanal recorrente em Jacques Herzog|Pierre de Meuron ou Francesco Borromini. A precisão que percorre a pormenorização ou a composição arquitectónica evidenciam a frugalidade, integridade ou confiabilidade objectual da arquitectura de Barozzi|Veiga – Lausana|Suíça ou Badalona|Espanha.
Cronologicamente, desde 2014, assiste-se a uma depuração material e espacial. O ornamento acompanha coerentemente este desenvolvimento e apuramento intelectual. Os genes históricos ou específicos de Barozzi|Veiga evoluem para desenhar e antecipar um futuro, surpreendentemente confirmado e utilizado em Blade Runner 2049, onde as imagens virtuais do Museu Neanderthal - Piloña|Espanha – de 2010 são a previsão, conotação e expressão futurista, também simbólica, fantástica e utópica da arquitectura.